quarta-feira, 28 de março de 2018


“Fico pensando em escrever coisas positivas e alegres, mas apenas penso.
Porque assim, é como dizem: “a boca fala do que o coração está cheio”, então como escrever sobre coisas felizes se o que existe dentro de si são tristezas e dores?
O que não posso ser é hipócrita ou fingir ser alguém que não sou, o que é quase a mesma coisa.
É que eu só não consigo dizer: “Ignorem tudo, essas coisas passam com o tempo!”, se quando você está vivendo algo mais parece que o problema será eterno.
Dizem ser fase, fase pra cá, fase pra lá, mas existem tantos casos e casos. Crianças, adolescentes, adultos e idosos, daqui a pouco são até bebês, não duvido mais de nada nesse mundo.
Casos de que? Suicídios ou as ditas “mortes acidentais” com total fundo de vontade própria nisso.  Agora o que é sim hipócrita fazer é dizer que não existe padrão ou um motivo “compartilhado”.
Ah, ok então, se várias pessoas visivelmente deprimidas e que parecem precisar de ajuda (mesmo que não peçam por) se matarem, isso será apenas coincidências?
Bom, se você considera que sim, meus parabéns, você é um tremendo babaca que pensa que a fucking depressão não existe, melhor espécie!
Se fui irônica? Pode ter certeza que sim, porque a última coisa que você mereceria seria um parabéns por pensar assim.
“Ah, mas todos temos opiniões diferentes e...” A diferença entre opinião e indiferença é grande, devo salientar. Porque pensar assim não é pensar diferente, é ser indiferente com o que vê, o que ouve e com o que as outras pessoas sentem.
“Depressão é viadagem, falta de p**/ bu****, passo coisa bem pior e não me corto, nem tento me matar!” Opa, outra e (por incrível que pareça) comum espécie de babaca acaba de surgir na minha frente. Novamente, meus parabéns, viu?!
Já sei! Que tal eu responder com belas regras de convivência?
Primeira regra: “Não tem nada de bom e positivo para falar sobre a dor de alguém? Então não fale nada!” Você não está na pele da pessoa para se sentir como ela sente, então não menospreze a dor alheia.
Segunda regra: “Não seja um babaca!” Eu sei que é meio difícil, principalmente para essa espécie completamente mente fechada, mas vamos lá, um esforçinho para não ser escroto não vai fazer sua boca cair. “Mas eu gosto de dizer tudo o que penso” Bom, se o que você pensa pode e com certeza fará mal a alguém, melhor realmente não dizer. Antes ficar de boca fechada do que ser responsável pelo mal de alguém.
Terceira regra: “Não responda a ninguém com ‘Se mata!’, principalmente se a pessoa disser que quer fazer isso.” Isso tem ligação com o “Não seja um babaca!”, mas não cai a mão salientar uma situação em especial. Já ouvi bastante essa frase e nossa, como é fácil e doloroso ouvi-la de quem mais consideramos. Mas é isso, não seja esse vacilão na vida de ninguém, mesmo que você nem considere ou nem seja considerado pela pessoa, te imploro.
Quarta regra: “Tente se colocar no lugar do outro.” Essa é (possivelmente) a última regra e a mais difícil, porque se colocar no lugar do outro é meramente ilusório. Você até pode tentar sentir a dor de alguém, tentar ver pela visão da pessoa, mas é isso aí, você apenas tenta. Não é possível se pôr de fato no lugar do outro ou sentir na pele a mesma dor daquela situação (por isso às vezes julgam, por não viverem aquilo não conseguem entender), mas mesmo que você passe pela mesma coisa lembre-se: Todos sentimos as coisas de uma maneira diferente. Situações iguais, reações diferentes.
Regra bônus que nem é bônus, porque não é uma regra: “Você não possui um coração de gelo (até onde eu sei), então você pode sim um dia estar do outro lado.” Que tal, né? E imagine só se deparar com alguém que é tão escroto quanto você pode estar sendo atualmente. E essa pessoa pode te afetar ou não, vai depender muito de como você irá reagir a tudo.
*Fim das Regras*
Continuando, existem aqueles que dizem: “Na minha época não tinha nada disso de depressão, a gente brincava de bola na rua, descalços, machucávamos o pé no chão de terra, mas éramos felizes.” Exatamente isso, na sua época. Não podemos tentar comparar o que chamamos de “evolução humana” (a atualidade) com 10, 20 ou até 30 anos atrás. De fato, temos jovens mais sensíveis e problemas talvez mais pesados,  pais menos presentes e tecnologias mais avançadas, amigos verdadeiros mais raros e problemas emocionais mais presentes, portanto, não compare um passado diferente em uma realidade onde você não foi adolescente, então não sabe como é para poder falar sobre.
Adultos, não sejam ingratos, sorriam e agradeçam mais. Não sejam idiotas, não digam coisas que possam ferir os sentimentos ou a autoestima de alguém. Não sejam pais frios e negativos, digam coisas positivas aos seus filhos também, não apenas cobrem. Não sejam mente fechadas, psicólogo não é hospício para você ter medo de ir ou de levar seu filho lá. Não parece, mas todos nós precisamos desse tipo de acompanhamento. Não ignore quem visivelmente precisa de ajuda, um dia você pode realmente precisar também.
E, para finalizar, vi ontem uma frase adaptada assinada por J. Bessa, não sei se o ator é homem ou mulher, mas o que importa é que ela deixa uma reflexão maravilhosa: Se você pudesse comer as suas próprias palavras, a sua alma seria nutrida ou seria envenenada?”